2 de Agosto de 1984: A noite em que Portugal não dormiu
Carlos Lopes, aos 37 anos de idade, encorpava a esperança de um País inteiro: um português ganhar, finalmente, uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos.
A Nike havia preparado uns ténis especiais que pesavam apenas 190 gramas e que haviam sido testados apenas durante 20 minutos, num treino.
Apesar do calor que, naquela tarde, se fazia sentir em Los Angeles, o ritmo da prova da maratona foi bastante rápido. Nada se passou de extraordinário até ao quilómetro 19, até um dos favoritos, o norte-americano Alberto Salazar, ceder; o australiano Robert de Castella resistiu até aos 34 quilómetros e os japoneses Seko e Takeshi ficaram definitivamente para trás, aos 36.
Na cabeça da corrida, ficaram Carlos Lopes, o irlandês John Tracy e o inglês Charles Spedding. Dois quilómetros adiante, Lopes desferiu o ataque que o levaria a vitória. Aqueles quase cinco quilómetros finais nunca mais acabavam. Por fim, a entrada triunfal no Coliseu de Los Angeles, um ambiente fantástico nas bancadas, com cerca de 200 metros de avanço, numa passada firme, autoritária.
Os últimos metros, corridos já com os braços erguidos ao céu, deixaram o País em delírio. O sonho da primeira medalha de ouro olímpica tornara-se realidade. Tracy chegaria 35 segundos depois, logo seguido do inglês.
Para além da grande vitória, Lopes bateu o recorde olímpico da maratona, com o tempo de 2h 09m 21s, que, passados 24 anos, ninguém conseguiu melhorar. Eram 3 horas e 10 da manhã.
Dois meses depois, o Presidente dos Estados Unidos da América recebeu na Casa Branca o campeão olímpico da maratona, Carlos Lopes, acompanhado pelo presidente João Rocha. Ronald Reagan felicitou-o, e agradeceu o exemplo dado ao povo americano e ao Mundo de como um atleta, pelo facto de ter 37 anos, não ser “velho”. Lopes, riu-se, mas Reagan tinha razão. No ano seguinte, ainda bateria o recorde mundial da maratona e seria de novo campeão mundial de corta-mato!
Portugal não esquecerá jamais o momento em que, em Los Angeles, Carlos Lopes fez ouvir, pela primeira vez, o hino nacional numa Olimpíada e proporcionou a subida da bandeira nacional ao mastro maior do Estádio.
Longe estava eu de pensar, naquela madrugada, que 20 anos depois, em 2004, o Carlos Lopes me iria confiar e entregar num fim de tarde, aqueles sapatos especiais e mágicos, o calção, a camisola e o dorsal, com os quais se consagrou como o primeiro campeão olímpico português, e que são o orgulho da nação sportinguista que visita o Mundo Sporting, o Museu do Sporting Clube de Portugal.
OBRIGADO, CARLOS LOPES!
Mário Soares Casquilho
in sporting.pt