Here we go again!
Respondendo a uma série de coisas, sem ordem especifica.
O fosso
Tal com já por várias vezes exprimi, a mais racional maneira de fazer “desaparecer” o fosso, passa por cobri-lo com uma estrutura leve (metálica) com relva artificial, mantendo a sua funcionalidade e circulação inferior.
Assim, seria possível eliminar a barreira visual e acima de tudo psicológica. Como já provei, a distancia entre a fila mais baixa e o relvado não é assim tão grande, nomeadamente nos topos (onde a pressão se faz) estando em linha com o existente nos outros estádios. Por outro lado, historicamente o publico de Alvalade sempre teve uma barreira de distancia (agora o fosso, outrora a pista) e isso nunca serviu de desculpa para falta de apoio ou pressão.
Não vale a pena pensar em continuações de bancadas, rebaixamento de relvado, aumento do campo, etc. que também já demonstrei e expliquei várias vezes que não é exequível por questões funcionais e acima de tudo de visibilidade (ou falta dela).
Já agora, substituir o fosso por uma pista de atletismo também não dá. Tamanhos e formas diferentes.
As cadeiras
As cadeiras, tal como os azulejos, obedeceram a um estudo cromático e iconográfico da história do clube feita, creio, com bases históricas e fotografias do antigo Alvalade com público, mais ou menos complexo e completo pelo filho do Taveira que é designer, (concorde-se ou não - eu também questiono onde foram buscar as gradações de azul p ex.) e teve como principio visual de estabelecer uma dinâmica, fugindo ao monocromatismo.
Não concordando com a paleta, não posso deixar de concordar e aceitar esse principio. Contrariamente ao que é crença o principal objectivo não é a ilusão de estádio cheio. Por mim, bastaria mudar as cadeiras com cores que definitivamente não tem a ver com o ADN cromático do clube (os laranjas mais puxados, os castanhos e os azuis) por cadeiras nas gradações de verdes, cinzas (brancos e pretos). Só isso já faria uma considerável alteração na sensação cromática do estádio.
Sobre os desenhos ou siglas, sou liminarmente contra. 1º porque partem do pressuposto que os estádio deverá ser visto vazio, 2º porque os desenhos ou siglas que se conseguem são demasiado pixelizados e na minha opinião foleiros (aqui abro a resalva para tratamentos gráficos mais abstracto que eventualmente funcionem com os que estão na cesta do pão - desenhos de adeptos na parte inferior da bancada) e 3º porque a tentação de usarem as bancadas como veiculo publicitário seria por demais evidente e apetecível.
Por mim até a aberrante onda existente (que assim que é parcialmente ocupada deixa de fazer sentido) desapareceria
O exterior
Os mastros, tal como a cobertura, transformam o edificio-estádio num símbolo iconográfico de Lisboa e identificativo da marca e nome Sporting. A presença deles no perfil urbano é potenciada e destacada pela sua cor, cor essa que existe na cromática do clube, pelo que qualquer alteração (e aí só seria aceitável para mim uma alteração para verde) teria que ser extremamente bem estudada, tendo sérias duvidas que se chegasse a um equilíbrio tal que melhorasse substancialmente o conjunto.
Os azulejos concorrem para esta imagética à volta do estádio. Contribuem para a identificação não recorrendo a subterfúgios mais frágeis. Além disso trazem um enorme beneficio de manutenção (assim tivessem sido bem colocados)
Sinceramente repugna-me mais as excrescências (Alvaláxia, clinica, etc) que me surgem como apêndices, e a inexistência de um percurso exterior continuo (que chegou a figurar em projecto).
As alterações
Contrariamente ao que se julga a alteração ao projecto não obriga à aceitação do arquitecto. O proprietário tem que forçosamente consultar previamente o autor de projecto sobre as alterações. Posto isto, sem acordo o autor poderá repudiar a paternidade da obra mas o proprietário poderá fazer as alterações (sob projecto de técnico habilitado para tal) ficando impedido de a partir desse momento invocar em proveito próprio o nome do autor inicial.
O arquitecto
Como ponto prévio, posso dizer que não tenho qualquer afinidade ou simpatia, quer com a personagem, quer com o profissional (no entanto os deveres deontológicos obrigam-me a ser comedido).
O Taveira era à altura o arquitecto com mais formação para fazer estádios. Em Portugal não se faziam estádio há décadas e ele após cair em desgraça acabou por ir para os Estados Unidos fazer especializações neste campo. Obviamente saiu-lhe a sorte grande (e ainda ficou sem o estádio do clube do seu coração num processo meio obscuro) mas do ponto de vista do resultado não lhe valeu (nos valeu) de muito.
O projecto
O estádio passou por muitas fases. Era suposto ter 3 anéis muito mais inclinados (o estádio seria bem maior e principalmente alto), foi chumbado pelo aeroporto. As torres de suspensão da cobertura eram suposto serem bem maiores (e mais icónicas), foi chumbado pelo aeroporto. O projecto estava praticamente definido e decidiu-se pelo aumento da lotação para poder acolher finais europeias. Estava o projecto em fundações (e aprovado) saiu nova legislação (para todos os outros que estavam bem mais atrasados) e obrigou-se esta a cumpri-la com graves prejuízos (inclusive monetários).
Se a isto se juntar um terreno difícil (ainda que mal modelado na minha opinião) é perceptivel a origem de uma série de erros e incongruências de projecto.
De qualquer modo, em termos da relação desenho/função, não tenho duvidas em considerar o estádio José Alvalade como dos melhores de Portugal.
Conclusão
Tudo o que atrás escrevi, não quer dizer que concorde, goste ou apoie com a totalidade do que está construído ou com a personagem que o projectou. As propostas e estudos de alterações que tenho feito, alicerçadas nas discussões que tenho tido aqui no forum acho que falam por si.
Eu, como arquitecto, agrada-me mais uma linguagem mais escorreita e racional com o estádio dos andrades. No entanto, este é o edifício que temos, sendo que considero que se deva perceber o porquê das coisas e propor apenas o que comprovadamente melhorará a funcionalidade e estética do estádio, não criando situações de alterações pontuais e casuisticas que causem ainda mais confusão na sua leitura.
E isso para mim, passa essencialmente pelo fosso e mudança parcial das cadeiras, existindo outras adições que poderão potenciar a presença do estádio (billboards, painéis solares na cobertura,…) que já foram discutidos em (vários) outros tópicos.